A coragem para dar um passo atrás

Ao assistir aos Jogos Olímpicos de Tóquio, fico a refletir que um dos grandes legados que vai deixar para a humanidade, pelo menos nesta primeira metade do século XXI, é a vulnerabilidade na liderança.

A ginasta dos EUA Simone Biles, de 24 anos, tem no seu currículo o recorde de 25 pódios em campeonatos mundiais de ginástica, cinco medalhas olímpicas, movimentos com o seu nome e que somente ela consegue executar.

Com essa brilhante carreira, ela demonstrou uma força interior tão grande para desistir de disputar medalhas para cuidar de si, da sua saúde mental, provando ser realmente uma estrela mundial e um exemplo a ser seguido.



Quebrar o tabu

Aos meus clientes de coaching, estou sempre a destacar a importância da vulnerabilidade na liderança e o quanto isso demonstra a humanização das relações no trabalho e na vida pessoal.

Num trabalho conjunto com os clientes, procuramos desconstruir essa certeza de que, precisamos de ser fortes e esconder as nossas fraquezas.

Precisamos de ter em mente que tentar manter a autoconfiança o tempo todo é uma exigência muito grande para uma pessoa suportar. A vulnerabilidade não pode continuar a ser um tabu para a sociedade.



Não somos super-heróis

A Mulher-Maravilha ou o Super-Homem, mesmo com os seus pontos fracos, aparecem como invencíveis no cinema ou em banda desenhada, contudo, na vida real, a postura de indestrutível é muito perigosa e prejudicial.

Perigosa porque demonstra que o líder está a esconder sentimentos, também demonstra falta de empatia e desconexão com a realidade das pessoas. E, prejudicial porque esse líder poderá desenvolver problemas de saúde, como stress, depressão, problemas gastrointestinais, entre outros.

Ao procurar alcançar a excelência, alta performance e alguns até a perfeição; o líder corre o risco de não permitir que a sua equipa se expresse de forma transparente. Isso resulta numa comunicação repleta de ruídos, clima organizacional desfavorável e pode gerar aquele sentimento de “que não sou bom o suficiente para estar nesta equipa”.

Tudo isso vai afetar diretamente o desenvolvimento dos trabalhos e, no final, os resultados da empresa.

 

Vulnerabilidade x fraqueza

Cabe ao líder, evitar esse comportamento e obter para si, o desenvolvimento da autocompaixão e autoconhecimento.

Ambos vão refletir na sua forma de liderar, pois, quem conhece e entende as suas próprias limitações, vai agir assim com as outras pessoas.

Contudo, é preciso saber diferenciar a vulnerabilidade da fraqueza. Vamos entender aqui, que a fraqueza é quando a pessoa se recusa a assumir as suas responsabilidades ou transfere para outras pessoas as decisões que deveria tomar.

Estão a perceber como são diferentes entre si esses conceitos? Podemos entender que a força e a fraqueza são estados do ser humano, já a fragilidade é diante de uma situação. Desta forma, podemos ter dúvidas (ou ser frágeis) em determinados momentos.

Mas, não podemos deixar que a fragilidade se transforme numa fraqueza. E de que forma deve fazer isso? Expressando de forma clara a sua fragilidade e permitindo que as pessoas ou membros da equipa, por exemplo, a ajudem a encontrar uma solução para a situação.

Isso requer o compartilhamento de emoções, a capacidade de ouvir e entender o ponto de vista do outro, mesmo que não concorde com ele e, principalmente, requer coragem para enfrentar uma situação. Como fez Simone Biles.



Gerir a vulnerabilidade

Um programa de coaching, seja executivo ou business, ensina ao profissional algumas técnicas para gerir a vulnerabilidade.

Quando o líder consegue identificar e tratar das suas vulnerabilidades, ele amplia o seu autoconhecimento, reduz os seus medos e, com isso, otimiza as suas capacidades profissionais.

Esse comportamento terá reflexos imediatos em toda a equipa. Ao mostrar um comportamento humanizado e de aceitação, o líder alcançará o comprometimento de todos os colaboradores, como verdadeiros aliados.

O líder deve sempre dar o exemplo e este refletirá no ambiente e comportamento de todos.

Deixo para reflexão uma frase do General Douglas MacArthur, comandante do exército dos EUA na II Guerra Mundial, que diz: “Seja forte para saber quando é fraco e corajoso o bastante para enfrentar a si mesmo quando tiver medo.”
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