Dizer sim ou dizer não, eis a questão

Dizer sim ou dizer não, eis a questão!

Confesso que hoje estou um pouco mais filosófica, mas ao contrário do Hamlet o motivo não é existencial, e penso que o William Shakespeare não levará a mal que eu lhe “roube” a frase para refletir consigo no seguinte: já reparou como o nosso dia-a-dia é uma sucessão de escolhas, onde podemos escolher dizer “sim” ou “não”?

Logo de manhã quando o despertador tocou mais cedo, podia ter dito não e continuado a dormir, mas disse sim a acordar mais cedo porque tinha objetivos a cumprir…

Quando fui tomar o pequeno-almoço podia ter dito sim ao bolo de aspeto delicioso, mas preferi dizer sim aos meus objetivos de ter um início de dia mais saudável…

Quando ia para o emprego e apanhei um trânsito medonho, disse não ao stress e à ansiedade porque disse sim ao meu objetivo de me sentir bem e manter-me relaxada…

Aproveitando a “onda literária” permita-me que partilhe ainda consigo mais uma frase, do escritor alemão Goethe: “As coisas que mais importam não devem estar à mercê das coisas que menos importam.”

Assim sendo gostaria de lhe fazer a seguinte pergunta: está a dizer sim ao que é importante para si?

Sempre tive uma natureza de gostar de ajudar os outros, e confesso que houve uma altura na minha vida em que tive alguma dificuldade em dizer não às pessoas, mesmo a comportamentos ou atitudes com as quais não concordava, por querer ajudar, por cortesia, por não querer magoar essa pessoa. A longo prazo percebi que isso acabou por colocar em causa os meus objetivos e os meus próprios valores enquanto pessoa, por dizer sim quando
devia ter dito não

Por isso precisei de mudar o meu mindset, ponderar a minha atitude, trabalhar a minha comunicação, estudar e aprender para expressar o não, quando necessário, com firmeza e gentileza. Resumindo tive de adotar na minha atitude e na minha comunicação uma maior dose de assertividade.

Mas o que significa assertividade? Na comunicação assertiva, ao contrário da comunicação passiva, a pessoa avalia e expressa aquilo que realmente pensa, o que prefere e sente. A comunicação assertiva é clara, genuína e firme, contudo comunicação assertiva não significa dizer aquilo que “bem me apetece”, e muito menos agressividade.

Quando pretende ter assertividade na comunicação com os outros a mesma é efetuada respeitando os seus valores e os valores da outra pessoa, mesmo que ela não concorde consigo. 

Muitas vezes confunde-se assertividade com arrogância, mas assertividade significa o contrário da passividade, eu mantenho o respeito e educação pela outra pessoa, mas isso não significa que tenha de dizer “sim” ou concordar com algo que não está alinhado pelos meus valores e objetivos, por aquilo em que acredito e valorizo enquanto Ser Humano.

Ao contrário da assertividade, na comunicação passiva a pessoa fica “quietinha” mesmo que não concorde e muitas vezes dizendo “ámen” a situações que lhe causam desconforto físico e emocional. A longo prazo isto acaba por gerar frustração prejudicando a integridade física, emocional e intelectual. Como se costuma dizer, “engolir sapos”.

Frequentemente por uma questão de educação, cultural, da própria personalidade ou vivência adota-se uma comunicação passiva, uma “máscara” para evitar dizer e expressar aquilo que realmente se sente e pensa. Não estou a dizer que temos de dizer tudo aquilo que pensamos e nos dá na “real gana”, a assertividade ajuda-nos a esclarecer os limites de cada um, eu respeito os limites do outro sem deixar que os meus próprios limites sejam ultrapassados.

Se isso lhe costuma acontecer com frequência, o primeiro passo para a mudança é reconhecer que tem dificuldade em dizer não, pois só dessa forma poderá estabelecer estratégias para desenvolver uma comunicação com maior assertividade e adotar escolhas alinhadas pelo que é importante para si, pelas suas metas e objetivos. Por isso convido-o a refletir por alguns momentos nestas questões:


- Tem por hábito mudar a sua opinião para ter que agradar aos outros?
- Costuma fazer coisas que não deseja e que vão contra aquilo que acredita, para “ficar bem” com as outras pessoas?
- Tenta “comprar” o “amor”, “afeto” e aceitação dos outros sendo uma pessoa “boazinha”?

Se se identificou com estes comportamentos talvez seja altura de começar a dizer não com mais frequência.

Por exemplo talvez tenha dito sim para assumir muitas obrigações porque os outros lhe pediram, e então percebe que não tem como realizar esses objetivos e fica em stress.

Ou então talvez tenha dito sim ao comportamento de alguém com que não concorda, por
medo de magoar ou ficar mal com essa pessoa. Mais uma vez se diz “sim” ao que não é importante para si, terá que enfrentar as consequências de viver situações com as quais não se identifica:

… quando diz “sim” e depois desilude as pessoas e não honra a sua palavra…
… quando diz ‘sim’ e entra em estado de stress…
... 
quando diz “sim” e não mantém o foco no que é prioritário…
... quando diz “sim” e põe em causa a sua coerência e autenticidade…

Neste ponto é importante que defina alguns objetivos para que a partir de hoje trabalhe a sua comunicação com maior assertividade. O que está disposto a fazer na forma como comunica com o mundo à sua volta, para expressar as suas opiniões de acordo com o que é valioso para si, com base no respeito e empatia pelo outro?

Lembre-se que é importante que respeite toda a gente, mas tal não significa que tenha de agradar a todas as pessoas para que concordem consigo.

Sempre haverão pessoas que vão pensar diferente de si e está tudo bem, você é a única pessoa que pode saber quando deve dizer “sim” ou dizer “não”.

Por fim deixe-me partilhar consigo algo que a vida me ensinou, quando adota uma atitude de assertividade na sua comunicação, às vezes pode ter situações mais difíceis mas a longo prazo as pessoas ao seu redor vão-lhe atribuir maior credibilidade e respeito porque se posiciona de uma forma genuína, sincera e correta.

Quando assim é, o seu “não” é respeitado, e o seu “sim” valorizado.

 
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