Natal é momento de reflexão

O Natal é uma das festas mais esperadas e comemoradas pelos portugueses e, também, em toda a parte do mundo.

Contudo, em Portugal, temos algumas diferenças em relação aos outros países. Em Portugal não neva, a não ser na Serra da Estrela e arredores, porém, quase sempre chove, tornando as noites ainda mais geladas.

Mas, esta é uma época para vivenciar o clima das ruas, o acender das luzes e enfeites de Natal com a chegada da noite.

O colorido das lojas e das casas, o brilho nos olhos das crianças a esperar por presentes do Pai Natal. As crianças ficam a esperar o Pai Natal vestido de vermelho e branco, que foi criado para a publicidade de refrigerante em 1920, nos EUA.

Mais ao Norte, na Galiza, aguardam a chegada do gigante carvoeiro, o Apalpador, que desce das montanhas para verificar se as crianças foram bem tratadas durante o ano, se estão alimentadas e felizes.

E nós, adultos, o que será que estamos a esperar neste Natal? Vou contar-lhes um pequeno conto de Natal, que talvez explique as nossas tradições, mas aponta-nos o que realmente devemos procurar neste período natalino.

 

Um conto de Natal

Era uma vez (lembram-se que todos os contos de princesa começam sempre assim?) uma princesa, chamada Áine, este nome deve ter sido retirado da lírica trovadoresca galego-portuguesa ou de alguma lenda celta. Ela morava num castelo muito bonito, com enormes jardins em formato de labirintos.

O seu pai era um rei poderoso e respeitado por todo o reino. No entanto, não permitia que a princesa saísse do castelo, pois temia que algo mau lhe pudesse acontecer. E foi assim que a menina cresceu, sem conhecer nada além dos muros do castelo.

Um dia, curiosa para saber o que acontecia lá fora, trocou a sua roupa com uma das trabalhadoras do castelo e saiu pelos grandes portões sem ser reconhecida. O seu coração estava a bater rapidamente. Ela estava a transpirar, misturando as emoções, ora alegria, ora medo, mas seguia o caminho em direção ao bosque.

Até que num momento percebeu que estava totalmente só e conseguia ouvir apenas os pássaros e outros sons vindos das árvores.
E continuou a andar, até que encontrou uma senhora, já velhinha sentada numa pedra no caminho que lhe disse:

- Bondosa miúda, podes-me ajudar a caminhar até à minha aldeia?

Áine nem pensou muito e estendeu a mão, ajudando a senhora a levantar-se, e segurando no seu braço, começaram a caminhar em silêncio. A velhinha parecia cansar-se muito quando falava e andava, por isso, resolveu calar-se durante o trajeto.

Após caminharem algum tempo, encontraram uma criança muito nova, que estava a brincar sozinha no bosque. E a senhora disse à princesa: Pegue nesta criança, vamos levá-la para casa, está a ficar tarde!

A criança sorriu, Áine segurou-a num dos braços, enquanto a senhora apoiava-se no outro braço. E, desta forma, mesmo com os braços a doer, Áine seguiu o caminho sem reclamar. A criança até dormiu, apoiando a cabeça nos seus ombros.

Após uma longa e tortuosa caminhada, as três chegaram a uma pequena aldeia, com pouco mais de sete cabanas. Algumas crianças que estavam a brincar, correram para chamar os seus pais ao ver a aproximação das três.

Todos saíram das suas casas, muito felizes e comemorando. E, o ancião da aldeia aproximou-se para recebê-las e disse:

- Querida miúda, não sei quem tu és, mas agradeço-te em nome de toda a nossa aldeia, trouxe-nos de volta a senhora Fraternidade e a linda Esperança.

E a princesa, sem entender, perguntou ao ancião:

- Elas estavam no caminho, porque não foram buscá-las?

- Elas partiram há muito tempo, procuramos por toda a parte, até fora do reino e não sabíamos mais onde encontrá-las. Fizeram-nos muita falta.

Para comemorar, foi colocada uma mesa no centro da aldeia e serviram sumo de frutas e uma deliciosa massa doce, frita e polvilhada com açúcar e canela. A noite já caía e todos permaneciam a conversar à volta da mesa, porém Áine não revelou quem era. Disse que era uma camponesa, pois assim estava vestida.

O que ela não sabia é que no castelo, o seu pai estava desesperado. Mesmo colocando todas as pessoas do castelo a procurar a sua filha, não a encontrava em lugar algum.

Até que chamou o chefe da guarda e ordenou que arrumassem os cavalos que ele, o rei, iria procurar a filha por todos os cantos da Terra, se fosse necessário. O chefe tentou argumentar que a noite estava a chegar e isso dificultaria a procura, mas o rei não deu ouvidos e, em pouco tempo, o rei e um grande números de cavaleiros atravessaram os portões do castelo em grande velocidade.

A noite foi longa para o rei e os seus soldados, que se embrenharam no bosque com tochas e a gritar pelo nome da princesa.

Ela, por sua vez, descansava feliz, e pela primeira vez na vida, fora do seu castelo, numa cabana simples. No seu rosto era possível perceber a felicidade da menina por trazer de volta a Esperança e Fraternidade para a aldeia.

Mal o sol apontou no horizonte, o barulho dos cavalos foi ouvido por toda a aldeia e todos saíram assustados das suas cabanas.

O ancião assim que reconheceu o rei, saudou-o com parcimónia e respeito, dizendo:

- Seja bem-vindo, Vossa Majestade! A que devemos vossa nobre visita à nossa aldeia?

O rei retribuiu o cumprimento, acenando com a cabeça e disse:

- Procuro a minha filha Áine, que está desaparecida desde ontem!

- Aqui estou, majestade! Disse a princesa, ao surgir por entre as pessoas.

O rei arregalou os olhos, abriu um sorriso e gritou:

- Finalmente a encontramos! E desceu às pressas do cavalo para ir abraçar a menina.

Enquanto montavam novamente a grande mesa, a menina disse ao pai:

- Precisas de conhecer o doce com uma deliciosa massa que eles me ofereceram!

O rei saboreou e aprovou o doce coberto com canela e açúcar e, ficou ainda mais feliz quando o ancião lhe contou que a sua pequena filha trouxe para aldeia a Fraternidade e a Esperança, quando já as davam por perdidas.

Com muita felicidade e satisfação, o rei retornou ao castelo, levando toda a gente da aldeia para conhecer e autorizando-os a ficar, caso quisessem. E, ainda, ordenou que o doce fosse produzido e distribuído para todos no castelo, e este foi rapidamente aprovado por toda a corte.

Muito tempo se passou e a saborosa massa doce que agradou tanto Áine e ao rei, passou a ser chamada de filhós e, ao lado do bolo Rei e do bolo Rainha, transformou-se em tradição do Natal.

E aqui, termina o conto. Áine cresceu e a sua generosidade e inteligência foram os pilares que guiaram o seu reinado, mesmo quando os tempos se mostraram desafiadores. 

Por isso, mesmo em momentos atribulados ou difíceis, devemos seguir o nosso caminho, descobrindo novas trilhas, novos bosques, novas possibilidades para as nossas vidas; e, também, acreditarmos sempre que no Natal e em todos os dias do ano, devemos manter a Esperança e a Fraternidade bem próximas a nós.
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