Perfecionista q.b.

Hoje para variar vou “fugir” um bocado da vida de escritório e convidá-lo a dar uma “volta ao mundo”. Isto porque há dias assisti na BBC a uma reportagem muito interessante e que vai servir de introdução para o tema que quero partilhar consigo.

Nessa reportagem os investigadores falavam sobre a relação de equilíbrio que existe entre o deserto do Saara, que fica no norte de África, e a floresta da Amazónia que ocupa uma grande parte da América do Sul.

Eu confesso que na altura fiquei um bocado “naquela”, afinal de contas o que é que o deserto, seco quente e implacável, tem a ver com a floresta verde, das chuvas e repleta de vida? Na minha cabeça não fazia grande sentido mas como sempre a Mãe Natureza dá-nos lições valiosas, quando estamos de mente aberta e dispostos a aprender.

Tão inesperada quanto esta relação de equilíbrio entre o deserto e a floresta é o facto, que eu achei verdadeiramente surpreendente, de ser o deserto do Saara que beneficia a floresta da Amazónia, “sendo responsável pela maior parte das chuvas torrenciais que caem sobre a região, mantendo a sua exuberância e biodiversidade. Além de enviar toneladas de nutrientes para sua vegetação (…)”.

Nesta relação de equilíbrio através de um mecanismo natural a poeira do deserto ajuda a formar nuvens sobre a Amazónia, a milhares de quilômetros de distância, sendo este mecanismo responsável pela grande parte das chuvas que caem naquela região.

Neste equilíbrio fascinante é o deserto, que associamos a aridez, escassez e ausência de vida, que potencia a geração da vida no outro lado do mundo!

Mas já que estamos a andar à volta do mundo, que tal darmos um saltinho ao Oriente?

Apesar de não ter muito conhecimento de causa das filosofias orientais, sempre achei muito interessante o símbolo do Yin e Yang, já deve ter visto essa imagem onde é representado um círculo dividido por uma linha sinuosa, com uma metade preta (o Yin) e outra metade branca (o Yang), e em que cada metade possui uma esfera no seu interior com a cor oposta.

Segundo este princípio da filosofia chinesa o Yin e o Yang representam o mundo composto por forças opostas, onde Yin representa a escuridão e Yang a claridade. Achar o equilíbrio entre as mesmas é fundamental, pois estas são complementares e inseparáveis uma da outra, e um dos lados não existe sem o outro.

Não estou a tentar passar-lhe um tratado filosófico ou espiritual mas acho que estes exemplos nos podem convidar a sermos mais objetivos e a colocar a vida numa perspetiva diferente.

Sejamos claros, a vida é difícil e todos os dias temos de “matar um leão”, sair de casa com força e determinação para darmos o nosso melhor, projetar uma imagem de excelência, atingir objetivos e estar à altura do nível de exigência e empenho que nos merecem a nossa família, os clientes, a equipa de trabalho, os colaboradores.

Por outro lado numa sociedade fortemente visual e onde todos os dias conhecemos novos casos de sucesso, o último grito, a última moda, é fácil exigirmos de nós mesmos nada menos que a excelência e a perfeição para superarmos os desafios e concretizar os objetivos traçados.

Como executive coach, como profissional e até mesmo a nível pessoal acredito fortemente nos valores da excelência, de darmos o nosso melhor para atingir os objetivos desejados, no entanto acredito também que devemos olhar para os nossos dias menos bons, para os momentos em que não somos perfeitos, para os momentos em que erramos como lições de vida valiosas. Afinal de contas foram esses dias difíceis que fizeram de nós a pessoa que hoje somos, provavelmente foram essas dificuldades que nos impeliram a fazer melhor, a fazer
diferente, a encontrar novos caminhos para atingir patamares de excelência e chegar ao resultado pretendido.  

Se não fossem as nossas dores, os dias menos bons no “deserto” da nossa existência, será que teríamos desenvolvido a
força que hoje temos para atingir os nossos objetivos e superar as dificuldades?

Isto não significa ser “adepta do sofrimento” e achar que “sofrer” é bom só porque sim, ou então que não há dias maus e que é tudo ótimo, porém é importante evitar a “armadilha do perfecionismo”, os dias nem sempre serão perfeitos mas, quem sabe, serão o que tinham de ser no nosso caminho de desenvolvimento pessoal.

Somos seres em equilíbrio e o que a minha experiência como Executive Coach me demonstra todos os dias é que quando muda o mindset e se aceita incondicionalmente como é, uma pessoa com forças e fraquezas, com níveis de excelência e áreas para melhorar, passa a encarar os momentos de “deserto” não como barreiras intransponíveis mas como momentos de reflexão, aprendizagem, superação. E muitas vezes é nesses momentos menos bons que planta a “semente” da mudança, saindo com força e energia renovadas para tentar, mais uma e outra vez, até atingir a excelência e concretizar os objetivos que traçou.

Yin e Yang, Amazónia e Saara, dias bons e dias menos bons….não existem um sem o outro.

Por isso deixo-lhe o desafio, procure a perfeição em tudo o que faz, mas aceite-se incondicionalmente e seja pleno em tudo o que vive. :)

 
Partilhar

Subscreva a nossa newsletter!

Utilizamos cookies próprios e de terceiros para lhe oferecer uma melhor experiência e serviço. Para saber que cookies usamos e como os desativar, leia a política de cookies.
Ao ignorar ou fechar esta mensagem, e exceto se tiver desativado as cookies, está a concordar com o seu uso neste dispositivo.